FATORES QUE INTERFEREM NO CONTROLE DO AEDES AEGYPTI
I
Quase acreditei que a culpa pela proliferação do dengue no município de Fernando Pedroza era do cidadão. Até que fui investigar os fatores que interfere na propagação do mosquito Aedes aegypti e consequentemente na transmissão do dengue. O que percebi é a complexidade nas soluções que combatam efetivamente o mosquito transmissor do dengue.
A referência para apresentar essa complexidade no combate ao Aedes aegypti é o professor da Universidade de Brasília Pedro Luiz Tauil doutor em medicina tropical. Ele atua principalmente nos temas: epidemiologia e controle de malária, dengue e febre amarela e metodologia epidemiológica. Além dele, usaremos outras importantes referências.
II
O mosquito Aedes aegypti é o principal vetor transmissor do dengue. E combatê-lo é o principal objetivo das ações de controle. O que não é tarefa fácil, pois nem sempre o ritmo das ações de combate acompanha a velocidade de proliferação do mosquito. Interfere também no controle a adaptação desses seres a diferentes ambientes.
Até recentemente a informação que o cidadão dispunha é de que o Aedes aegypti se reproduzia em locais com água limpa. Mas pesquisas apontam que o vetor Aedes aegypti pode ter se adaptado a um novo ambiente, tolerando água turva e rica em material orgânico em decomposição, o que torna as fossas de esgotamento sanitário doméstico um potencial criadouro do vetor Aedes aegypit.
As condições de temperatura também contribuem para o desenvolvimento do mosquito. Pesquisadores da Paraíba investigaram as temperaturas favoráveis ao desenvolvimento do Aedes Aegypti e perceberam que as exigências térmicas variam dependendo da população e do estágio de desenvolvimento do inseto. Desse estudo podemos inferir que ambientes com temperaturas entre 22 °C e 26 °C são mais favoráveis ao desenvolvimento do mosquito, assegurando uma longevidade de 38 a 43 dias e reprodução de 99 a 238 ovos/fêmea.
Os hábitos de consumo que valoriza o material descartável também podem ser associados à proliferação do A. aegypti. Latas, plásticos e garrafas usadas são descartados diariamente nas cidades. Materiais que são potenciais criadouros, efetivados pela destinação inadequada desses descartáveis.
Os transportes não podem ser deixados de lado quando se pensa na disseminação do dengue. Para o doutor TAIUL (2001) a intensidade e frequência dos meios de transportes são meios facilitadores da propagação do vírus.
Outro fator que favorece a proliferação do Aedes aegypti e a ausência de saneamento básico. Acúmulo de água nas ruas e quintais provenientes dos esgotos domésticos ou das chuvas cria as condições favoráveis à disseminação.
Associado a todos esses fatores está à ausência de um plano estratégico elaborado a parti do conhecimento científico e técnico disponível. Contribui com a elaboração do plano os dados levantados pelos agentes de endemias. Através deles podem-se calcular os índices de infestação predial (percentual de prédios encontrados com recipientes contendo água e larvas em relação ao número total de prédios examinados) e o Bretau (percentual de recipientes encontrados com larvas em relação ao número total de prédios examinados). Índices que podem ser utilizados para identificar áreas com maior risco de infestação e, portanto, definir prioridades.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não é possível falar em culpados pela epidemia que ora assola os fernando-pedrozenses. Somos responsáveis sim, quando negligenciamos ações de controle, mas não somos únicos responsáveis. Tendo em vista a complexidade do controle.
Países como Cuba e Cingapura são citados como exemplo de sucesso no combate ao vetor do dengue. E, apesar de ter reduzido drasticamente, o mínimo de resíduo possibilitou o reaparecimento do Aedes aegypti.
Percebe-se que é complexo eliminar o vetor transmissor do dengue, tanto pela quantidade de fatores favoráveis a disseminação quanto pela cultura do consumo de produtos descartáveis que potencializa a proliferação do mosquito.
No caso de Fernando Pedroza, tivemos em 2011 um índice pluviométrico relevante o que favoreceu a existência de um ambiente propício - água suficiente e temperaturas adequadas. Junta–se a isso a destinação inadequada do lixo urbano – as pessoas ainda insistem em jogar seus produtos descartáveis na rua ou em terrenos baldios. E a prefeitura recolher e jogar em lixão.
Vale lembrar que a população só é informada de que tem que dá uma destinação adequada ao lixo, manter os reservatórios de água fechado e limpos. O órgão responsável pela ação de controle não informa quais as áreas de riscos, o índice de infestação, o plano de ação, etc. O cidadão deve participar, seja conhecendo os detalhes, seja tomando decisões coletivas para que se sinta responsável pelo sucesso.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
TAUIL, Pedro Luiz. Aspectos críticos do controle do dengue no Brasil. Cad. Saúde Pública [online]. 2002, vol.18, n.3, pp. 867-871. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/csp/v18n3/9314.pdf>. Acesso em: 03 de jan. de 2011.
TAUIL, Pedro Luiz. Urbanização e ecologia do dengue. Cad. Saúde Pública [online]. 2001, vol.17, suppl., pp. S99-S102. Disponível em: <http://www.scielosp.org/pdf/csp/v17s0/3885.pdf>. Acesso em: 03 de jan. de 2011.
BESERRA, Eduardo B. et al. Biologia e exigências térmicas de Aedes aegypti (L.) (Diptera: Culicidae) provenientes de quatro regiões bioclimáticas da Paraíba. Neotrop. Entomol.[online]. 2006, vol.35, n.6, pp. 853-860. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ne/v35n6/a21v35n6.pdf>. Acesso em: 03 de jan. de 2011.
CLARO, Lenita Barreto Lorena; TOMASSINI, Hugo Coelho Barbosa and ROSA, Maria Luiza Garcia. Prevenção e controle do dengue: uma revisão de estudos sobre conhecimentos, crenças e práticas da população. Cad. Saúde Pública [online]. 2004, vol.20, n.6, pp. 1447-1457. Disponível em: <http://www.scielosp.org/pdf/csp/v20n6/02.pdf> Acesso em: 03 de jan. de 2011.
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