O que é melhor produzir: o próprio alimento ou salários?

Há momentos na nossa vida que paramos, olhamos nossa real situação econômica e nos perguntamos, onde está o fruto do nosso trabalho. Alguém pode até dizer: como você é professor o fruto do seu trabalho está no futuro dos seus alunos. Mas, e o meu? Preciso está vivo no futuro para usufruir, indiretamente, do meu trabalho.
É certo que no presente recebo salários. Mas o que é salários? Apenas um valor estipulado, que segundo o contratante é correspondente a energia gasta para produzir um bem. Para ele é um valor justo e muitas vezes elevado. Porém para nós é um valor subestimado, incapaz de se transformar em energia correspondente a consumida pelo trabalho.
Se a energia acumulada no nosso corpo foi utilizada para realizar um trabalho que não se reverterá em reposição de energia para que o meu corpo continue realizando trabalho seremos, de forma progressiva e constante, minado até se esvair. Foi inteligente a pergunta do sábio Salomão (Ec 3. 9) “Que vantagem tem o trabalhador naquilo em que trabalha?”
A resposta a está pergunta está diretamente ligada à outra pergunta: qual o propósito da vida humana? Se dermos como resposta: “sobrevivermos”, então, porque estamos nos deixando matar? Por que não damos um basta aos salários inversamente proporcionais aos nosso trabalho?
Estamos morrendo não apenas por questões biológicas, mas também por questões sociais. E, é provável que as sociais sejam as maiores responsáveis. Se morrêssemos apenas por questões biológicas, provavelmente atingiríamos uma média de idade de 100 anos. Contudo encontramos muita gente morrendo aos 70, 50, 40. Outras não chegam aos 5 anos de idade. As causas das mortes são as mais diversas, acidentes, parada cardíaca, anemia, pressão alta, entre tantas outras.
Trabalhamos para garantir a sobrevivência. Alimentar adequadamente nossa família, manter a paz no lar (ambiente onde vivemos), morar em lugar adequado ou seja que não coloque em risco a nossa saúde e a da nossa família. Contudo isso não é possível com o salário que recebemos. Ele é insuficiente para atender as necessidades básicas.
Porque será que isso acontece? Teoricamente deveríamos, em primeiro lugar, suprir as energias necessárias à realização do trabalho. Porém atendemos as necessidades secundárias. Ou seja, com o nosso salário compramos os bens que são indispensáveis primeiro e só depois que atendemos nossas necessidades básicas.
Este modo de vida que estão nos vendendo não condiz com a realidade do trabalhador. Parece até que alguém deliberadamente quer vê nosso fim. Se trabalhamos para sobreviver, deveríamos, com o nosso salário, comprar em primeiro lugar os alimentos que suprem as energias gastas na produção de bens e serviços. Contudo nos oferecem, por meio de propagandas, produtos supérfluos e dispensáveis, como sendo essencial a sobrevivência.
Os que se deixam levar pela a aparência sofrem conseqüências como: aumento das dívidas, perturbação no lar, aumento na carga horária de trabalho, entre outras. No entanto nem damos contas que diariamente vai-se um pouco de nós. Mas afinal, vale a pena trabalhar para sobreviver. Parece-nos que os entendidos são os que vivem sem trabalhar. Esses “não comem”, mas também não despendem de tanta energia diariamente.
Os ditos “malandros” que não querem trabalhar, apenas curtir a vida, ou melhor querem viverem, parecem serem mais vigorosos que o trabalhador. Aqueles que lutam para manterem um padrão de vida socialmente aceito, geralmente são mais estressados, trabalham muito e obtém tão pouco. Pois esses se satisfazem comprando mercadorias que não se transformam em bens.
Todavia, estamos convictos que se todos deixassem de trabalhar não teríamos como sobreviver. Quem produziria nossos alimentos? Ou quem construiria nossas casas? Queremos trabalhar não para enriquecer o outro, mas para produzir o nosso próprio alimento, para construir a nossa própria casa. Poderemos até ser solidários sem contudo um se apropriar do trabalho do outro.
Se não for possível produzirmos o nosso próprio alimento que nos paguem salários que sejam suficientes para adquirir esses bens indispensáveis. Está na hora de vivermos, não de estarmos vivos. Chegou o tempo de trabalharmos, não para sobrevivermos, mas para vivermos. Para isso vamos exigir salários proporcionais a energia despendida na realização do trabalho.

Fernando Pedroza, 25 de maio de 2008

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