CHEGA DE FUTILIDADE, CADÊ NOSSOS PENSADORES?
Por Pr. Marco Feliciano
Quando jovem assisti uma cena surreal na igreja onde congregava, ouvi um “tristimunho”.
Um amigo testemunhou no púlpito que havia ganhado uma bolsa de estudos
do seu patrão, mas que, por amor a obra, e crer na iminente volta de
Jesus, não aceitara, afinal, disse ele: Pra que estudar tanto se Jesus logo viria arrebatá-lo?
A pouco tempo, em uma das empresas que fundei, sentindo a dificuldade
para seu crescimento, contratei uma empresa especializada em RH
(recursos humanos), e após efetuarem uma minuciosa triagem o resultado
me fez perder o chão. “Sua empresa logo irá falir!”
me disse o consultor, e sua explicação me convenceu. Todos os
funcionários desta empresa eram evangélicos, e na triagem todos
responderam de igual forma, que em suma foi mais ou menos assim: Se
estavam ali, foi porque Deus os colocou, e se saíssem dali foi porque
Deus os tirou, então, por que iriam “perder” tempo em estudar,
aprimorar, fazer cursos, etc?
Em ambas as experiências acima temos um reflexo de como pensam os
evangélicos, é claro, que toda regra tem exceção, graças a Deus por
isso!
Semana passada provoquei uma audiência pública na Comissão de
Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados sobre um assunto
polêmico, a ORTOTANÁSIA que significa “boa morte”. O projeto em si
tentava descriminalizar a EUTANÁSIA. Fiz a audiência para não cometer
equívocos quanto ao meu voto de relator. Busquei pessoas especializadas
no assunto para me darem amparo jurídico, médico e espiritual, afinal o
assunto gera em torno da morte.
A CNBB Conselho Nacional de Bispos do Brasil, órgão da Igreja
Católica, enviou representante jurídico, bem como convidei um grande
médico, também de formação católica que muito contribuiu para o assunto e
ambos deram um “show” de explanação sobre vida e morte, ciência e fé,
acima de tudo com base na Carta Magna Brasileira, a nossa Constituição
Federal. Ainda falando sobre a Igreja Católica, graças a sua militância,
impediu que o texto aprovado na Rio+20 abrisse brecha para a
legalização do aborto.
Voltando a falar sobre a audiência, que só não foi melhor por que
ficou uma lacuna, uma cadeira vazia na comissão. Tal cadeira era
destinada há um representante evangélico. Não foi por falta de procurar.
Meu gabinete ligou para muitos lugares, mas o assunto era desconhecido
para a maioria.
Após a audiência pensei nessa matéria que aqui escrevo, para, quem sabe, se tiver êxito, despertar alguns.
Os grandes e polêmicos temas desta nação, temas que esbarram nos
nossos bons costumes, que ferem nossa fé, assustando nossas famílias,
precisam ser discutidos, e para isso precisamos de militância.
Precisamos nesse quesito aprender com o Catolicismo, que, se esmerou com
o passar dos anos e hoje, tem voz ativa sobre assuntos polêmicos e suas
opiniões são respeitadas, afinal prepara seus representantes são
preparados intelectualmente e espiritualmente.
Nós evangélicos somos vistos como fundamentalistas fanáticos, e damos
motivos para isso. Quando discutimos o assunto da homossexualidade por
exemplo, a grande maioria dos nossos lideres só afirmam que tal ato é
PECAMINOSO, mas quando inquiridos dentro da psicologia, genética,
antropologia, não tem argumentação intelectual pois não se preparam, e
de maneira simplista expõe nossa fé ao ridículo.
Teremos assuntos pela frente como O USO DAS CÉLULAS TRONCO,
SUSTENTABILIDADE DO PLANETA, a GRANDE EXPLOSÃO DEMOGRAFICA MUNDIAL que
põe em risco os recursos naturais do planeta, entre outros, e esses
assuntos já estão na pauta do dia, e como a Igreja Evangélica Brasileira
que já é 33% da população brasileira, vai se posicionar? Não há como
fugir destes assuntos. Seremos omissos? Ignorantes? O que diremos aos
nossos filhos, aos nossos membros? Continuaremos a ver nossos
referenciais fazendo citaçõezinhas fúteis em seus facebook, twitters,
blogs, programas de rádio e TV?
Ora, os artistas seculares se posicionam, vestem camisas com
inscrições apoiando ou protestando contra assuntos tipo a transposição
do Rio São Francisco, Usina Belo Monte, os cantores fazem barulho sobre
esses assuntos, na Rio+20, Daniela Mercury, cantora de Axé, provocou
seus fãs a “infernizarem a vida dos lideres políticos” sobre o assunto
do desmatamento. E nossos “artistas” evangélicos e nossos cantores
góspeis, que querem o “status” de celebridade? Não irão se posicionar?
Não falarão nada? Ficarão calados? Mas eu os entendo, como irão se
posicionar, falar, se não sabem NADA sobre esses assuntos? Se são
ignorantes a cerca do que se passa em seu País, em sua Pátria? E é bem
possível que após lerem este artigo irão se enfurecer, e dizer, A IGREJA
TEM QUE SE PREOCUPA COM CÉU, COM O MUNDO ESPIRITUAL… e por causa destas
respostas e outras de igual teor que virão, nossos filhos, nossos
membros, nossa comunidade evangélica sempre será envergonhada, não terá
credibilidade, até que, alguém, comece a estudar, se preparar, e militar
nestas causas.
Faço um apelo aos grandes líderes evangélicos da nossa nação, que,
estimulem seus liderados a estudarem, que preparem um grupo de
pensadores, que criem em suas convenções, simpósios e seminários para
discutirem o Brasil de amanhã, e qual será o posicionamento e a atuação
da igreja evangélica brasileira sobre exercer sua cidadania.
Mais uma vez reforço, não podemos nos calar. Não podemos continuar
sendo o “Zé povinho” como nos tratam. Não podemos ser tratados apenas
como currais eleitorais em tempo de campanha. Precisamos nos posicionar
com argumentos técnicos, intelectuais, científicos e teológicos,
precisamos marcar território!
Não podemos esquecer, que Martin Luther King era PASTOR e militava
nas causas de minorias, e tornou-se mártir e um referencial para nações.
Lideres espirituais de outras religiões atuaram de igual forma como
Mahatma Gandhi, Dom Paulo Evaristo Arns entre outros e marcaram posição,
fizeram história, influenciaram sua geração.
O apóstolo Paulo em seu tempo discutia com os epicureus e os estóicos
em alto nível. Preparado, conhecedor das leis, exigiu e foi atendido
pelos mais poderosos homens do seu tempo.
Existem alguns microblogs evangélicos que são fantásticos, pessoas
cultas, intelectuais, que poderiam usar suas ferramentas pra estimularem
uma geração inteira, que poderiam por em pauta assuntos de importância
nacional, se quisessem provocariam uma revolução intelectual no meio
evangélico, e eu estendo esse apelo a eles: Por favor, despertem a
inteligência dos nossos, deixemos de lado as intrigas, as picuinhas
entre nós mesmos, sejamos fortes!
Convoco também os grandes conselhos de Pastores para que criem uma
secretaria que fiquem atentos a estes assuntos e de maneira democrática,
participem destes assuntos. Opinem, escrevam, marquem audiências com
autoridades, vocês tem esse poder em suas mãos.
Não estou dizendo para deixarem de lado suas vidas eclesiásticas,
assim como na Igreja de Jerusalém alguns cuidavam dos órfãos e das
viúvas enquanto os demais, oravam e se dedicavam a palavra, levantemos
alguns para cuidar destes assuntos.
É tempo de despertar.
Em Cristo,
Pr. Marco Feliciano
Deputado Federal PSC-SP
Brasilia, junho de 2012
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