SÃO ROMÃO: Memórias em decadência
Os que chegam ao Centro do município logo identificam elementos arquitetônicos que diferem da idade do município. Construções com fachadas de décadas anteriores e que mais parecem com fortalezas, paredes erguidas com tijolos agigantados.
Quem vê esses objetos geográficos e o tempo de suas construções certamente tem curiosidade em saber do modo de vida dos que viveram em um período anterior ao reconhecimento desse espaço como município. Os objetos presentes na paisagem lembram a esses que chegam ou que já estão que temos uma história e que ela tem início com São Romão.
Mas, por que sabem que existe uma história? Podem ter esse conhecimento pelos sentidos, a audição e a visão ou através dos dois. Sendo que, ouvindo e vendo, a história pode ser melhor reconstruída na imaginação. Porém, para contar, alguém precisa ter vivenciado ou participado da história, ter construído a paisagem que ora encontra-se diante de seus olhos. E que alguns objetos da paisagem por ele construída estejam presentes, a fim de manter sua memória, caso contrário a história será facilmente esquecida.
“Pelo olhar, a memória do indivíduo poderia recuperar as ações vividas no lugar, as quais também são marcadas por sentimentos” (ALVES, 2003, p.135). Nesse sentido se quisermos manter a memória dos Fernando-pedrozense precisamos conservar na paisagem, que sofre transformações constantes, objetos geográficos que desperte nos indivíduos os sentimentos por eles vividos e com isso melhore a disposição para participar das mudanças, lutando para construir um lugar melhor com qualidade de vida, exercendo e levando outros a exercerem plenamente sua cidadania.
Mas que sentimentos podem despertar a paisagem descrita na figura acima (gerador de uma antiga usina em São Romão - Fernando Pedroza 25 de abril de 2009). Se perguntarmos a alguns que vêem dirão um gerador enferrujado e abandonado, porém para os que viveram em São Romão ele é mais que um objeto técnico constituindo a paisagem local. Ele representa o “coração” de toda a dinâmica vivenciada nas noites do antigo distrito. Sem o qual as noites seriam marcadas pelo silêncio e a escuridão.
Esse gerador que se encontra enferrujado e entregue a ação do tempo, exposto ao vento, chuva e sol, diz muito da nossa história. Basta para isso percebermos que existe diferença entre noite escura e iluminada. Ou reconhecer que muita coisa pode acontecer num espaço urbano em uma noite iluminada. Pessoas podem se sentirem motivadas a dormirem mais tarde em virtude de outra pessoa ter promovido um baile, outras podem participar de um culto ou missa ou podem simplesmente reunir amigos para conversarem, jogar baralho, dominó, entre tantas outras coisas que ainda permanece nas noites de Fernando Pedroza.
E aí, sabendo do valor dos atuais objetos geográficos que constituem a paisagem local e o estado em que se encontram, colocando em risco a nossa memória, mesmo assim vamos contemplar de forma inerte, sem uma ação de resgate desses objetos a fim de mantermos acessa a nossa memória?
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, Glória da Anunciação. Cidade, cotidiano e TV. in: CARLOS, Ana Fani Alessandri (org.). A geografia na Sala de aula. 5. ed. São Paulo: Contexto, 2003.
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